A primeira diz respeito a um homem insatisfeito com sua cruz.
Pesava demais. Não lhe parecia razoável nem justo.
Vivia reclamando. Orava sensibilizado, a reivindicar madeiro mais
leve.
E tanto insistiu, agoniado, que lhe foi oferecida a oportunidade de
efetuar uma substituição.
Sob orientação de mentores espirituais, examinou imenso
mostruário onde havia cruzes de tamanho, formato e peso diversos.
Escolheu, cuidadosamente, a que lhe pareceu mais adequada.
Quando a recebeu verificou, assombrado, que era exatamente igual
à que carregava. O mesmo tamanho, formato e peso.
Digamos que a cruz de nossos dissabores guarda compatibilidade
com nossas forças, bem mais leve do que merecemos, bem menos
contundente do que solicitamos.
Se assim não nos parece é porque a carregamos sobre ombros nus.
É o atrito que produz doridos ferimentos.
Ficará bem ameno se colocarmos um anteparo: a almofada do Bem,
em exercícios de solidariedade e fé.
Com essa abençoada proteção seguiremos tranqüilos, com saúde, livres cumprindo
sem maiores dificuldades nossa programação existencial.
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A segunda história nos fala de um homem muito esperto.
Reclamando que o peso do madeiro o incomodava, cortou um
pedaço na base. Ficou mais leve.
Após algum tempo de caminhada, começou a pesar novamente.
Não teve dúvida – cortou outro pedaço e seguiu tranqüilo.
Ao chegar ao final da longa jornada, verificou algo que o deixou
estarrecido: o acesso às regiões celestiais passava por um abismo profundo,
com a largura de dois metros e meio, pouco menor que o cumprimento da
cruz original, que deveria ser usada como uma ponte.
Ao reduzi-la, ficou sem acesso.
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Muita gente vai podando a cruz pelo caminho.
O chefe de família que abandona esposa e filhos, por sentir-se
cerceado em sua liberdade…
O comerciante que apela para a desonestidade a fim de superar
dificuldades econômicas.
A jovem que parte para o aborto a fim de livrar-se de um filho
indesejável...
São, simbolicamente, cruzes decepadas, que em princípio até
facilitarão a caminhada, mas resultarão em graves problemas no retorno
à vida espiritual.
Esses podadores da cruz não terão condições para transpor os
abismos umbralinos, as regiões purgatoriais, onde, segundo Jesus, há choro
e ranger de dentes.
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Há os que estão dispostos a carregar o madeiro redentor sem fugas,
sem desvios.
Não pedem, em oração, que o peso seja menor, nem pretendem
que seja reduzido.
Acertadamente, rogam forças, coragem, equilíbrio…
Não obstante, saem da oração sem aqueles benefícios.
Imaginam haver uma falha de comunicação.
O canal de ligação com o Céu parece bloqueado.
Como superar o problema?
É Jesus quem nos ensina, ao proclamar (Mateus, 5:23-24):
Se, portanto, quando fordes depor vossa oferenda no altar, vos
lembrardes de que vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, – deixai a
vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso
irmão; depois, então, voltai a oferecê-la.
Livro: Anuário Espirita 2009
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