Não podemos confundir reencarnação com ressurreição e nem com metempsicose. A reencarnação propriamente dita é a volta da alma ao plano físico, em um novo corpo material. A ressurreição é tese superada e não encontra respaldo nos princípios da lógica mais elementar. Como conceber que um corpo já transformado em "simples pó" pode retornar a sua forma antiga e, de novo, servir de instrumento ao espírito? Isso, por certo, contraria também os princípios mais elementares da ciência.
A metempsicose é uma palavra de origem grega – metempsycosis – que significa a transmigração do espírito de um corpo para outro. Na Índia, até nossos dias, admite-se a reencarnação da alma em corpos humanos, podendo a mesma retroagir e reencarnar em corpos de animais. Pela teoria da metempsicose, as reencarnações dos espíritos se processam em corpos humanos, mas também em corpos de animais.
Perante o espiritismo, dentro da mais cristalina lógica, a alma não pode regredir. Pode estacionar, mas a evolução do espírito não admite retrocesso. Assim sendo, o espiritismo admite a reencarnação como o processo das existências sucessivas, retomando o espírito o vaso físico, mas do mesmo ponto evolutivo em que se encontra para um novo aprendizado ou para restabelecer o equilíbrio perdido em fases pretéritas.
Historicamente falando, a teoria da reencarnação é tão antiga como a história do próprio homem. Atribui-se à metempsicose o dealbar da teoria da reencarnação. Os povos orientais sempre se mostraram sensíveis à crença na reencarnação, aceitando-a e atribuindo-lhe um grande destaque religioso. O budismo e várias seitas hindus sempre acataram a reencarnação da alma.
O mesmo podemos dizer dos primeiros cristãos, dos antigos egípcios e dos antigos gregos, que tinham na reencarnação um dos pontos básicos de suas crenças. No Tibet, o Dalai Lama é considerado a reencarnação do seu antecessor. Pitágoras, o grande matemático (qual o estudante que não se recorda do teorema de Pitágoras?), afirmava ter sido, em encarnações passadas, Euforbos, filho de Pantos. Sócrates e Platão, eminentes filósofos da velha Grécia, eram adeptos dos princípios espiritualistas e admitiam plenamente a tese da reencarnação. Os judeus também eram reencarnacionistas.
A reencarnação na Bíblia
No evangelho de Mateus (16:13), há referência expressa sobre a reencarnação. Vejamos: quando Jesus chegou às portas da Caesarea Philippi, perguntou aos seus discípulos: quem os homens dizem que eu sou? Eles responderam: "uns dizem que tu és João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias ou um dos profetas". Essa resposta indica que os judeus acreditavam na imortalidade da alma e na sua reencarnação.
Também célebres figuras da Roma antiga eram notoriamente adeptos da reencarnação. Cícero, Virgílio, Ovídio e o próprio Julio Cesar defendiam os princípios da imortalidade da alma e do seu regresso à matéria. Os Celtas, que habitavam um território que se estendia do País de Gales à França, também incorporaram à sua cultura a teoria reencarnacionista.
O próprio Kardec reconhecia ter sido, em uma de suas encarnações, um sacerdote druida, motivo que fez com que adotasse o pseudônimo Allan Kardec. Sim, meus amigos, incontáveis relatos de reencarnação estão consignados na Bíblia Sagrada e também são expressivos e valiosos os depoimentos de grandes santos e doutores da igreja.
A reencarnação e a Igreja
Orígenes, sábio cristão e mestre da igreja, ensinava que "todas as almas chegam a este mundo fortalecidas pelas vitórias ou debilitadas pelas derrotas de uma vida pregressa.
O seu lugar neste planeta é determinado por seus méritos ou deméritos do passado". Essa assertiva do sábio Orígenes traduz sua ampla confissão da sua crença viva na reencarnação da alma.
São Clemente, de Alexandria, era adepto fervoroso da teoria da reencarnação e isso pode ser facilmente encontrado em muitos de seus escritos.
Em favor da teoria reencarnacionista, São Gregório, Bispo de Nissa, afirmou que "a alma precisa purificar-se e isso não acontecendo durante a vida na Terra, deve ser realizado em outras vidas futuras".
Santo Agostinho, no seu livro Confissões, chegou a interpelar a si mesmo: "não vivi em outro corpo antes de entrar no ventre de minha mãe?" Eis aqui provada, por sua própria confissão, a crença de Santo Agostinho na sua própria reencarnação.
Somente em 553, durante o Concílio de Constantinopla, graças às artimanhas da imperatriz Theodora, que exerceu forte influência em seu esposo – o Imperador Justiniano –, é que a reencarnação tornou-se heresia e seus adeptos passaram a ser perseguidos. Apesar disso e das perseguições que se seguiram aos então considerados "hereges", muitos doutores da igreja continuaram acreditando e divulgando os legítimos princípios da reencarnação. Em nossos dias, no seio da igreja contemporânea, cultos sacerdotes, em caráter sigiloso, continuam aceitando a tese reencarnacionista. Conheci o prezado e saudoso padre Gregório. Cheguei a dialogar com o mesmo e confessou-me ele que aceitava a reencarnação do espírito e, para minha maior alegria, tirou do bolso de sua batina e mostrou-me uma foto do nosso Chico Xavier. Sim, meus amigos, o espiritismo tem como pedra angular a reencarnação que, racionalmente, explica todos os meandros da evolução do espírito.
Revista Cristã de Espiritismo - ed.08
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